EMERSON GOMES CARDOSO
O presente trabalho relata pesquisa, considerada pesquisa-formação, instaurada em ambiente institucional, no contexto da atividade de Coordenação Pedagógica de uma escola particular de Ensino Médio do Distrito Federal. Esta já desenvolve uma proposta voltada para a formação continuada de seus professores, cujo espaço foi cedido parcialmente para a parceria universidade-escola ora descrita. Tratou-se de desenvolver, com os professores, um instrumento de reflexão da prática docente e da formação profissional continuada e, por meio do instrumento desenvolvido – e em seu próprio desenvolvimento –, viabilizar a consolidação de processos contínuos de aprimoramento da dinâmica de sala de aula.
A origem do problema situa-se na relação desarticulada entre os professores e o projeto da escola, em que formas sutis de resistência em participar de trabalhos em espaços coletivos foram caracterizadas no grupo. Admitimos a priori que, como co-autores no processo de pesquisa, os professores pudessem produzir novos sentidos para o trabalho de formação continuada realizado na escola.
Enfoca-se, na defesa da pesquisa colaborativa, a inserção dos professores no centro de programas de formação continuada, como autores e protagonistas, em oposição às formas prescritivas e doutrinárias dos modos de ser e estar na profissão. O trabalho relata a história vivenciada por um grupo formado por professores da escola, um mestrando e um professor da UnB, que ousaram inverter a lógica de programas convencionais de formação continuada, para se constituírem autores de si mesmos.
O grupo constituiu-se num instrumento que deslocou o professor de seu lugar, para fora do acontecimento vivenciado, para outro lugar, de onde criou uma nova imagem dele e do vivido.
Baseado na analogia do auto-reflexo no espelho percebeu-se que a imagem diante do espelho não representa o sujeito no cotidiano de sua vida. Diante do espelho posamos para o outro e vemos apenas aquilo que desejamos ou o que não desejamos ver, mas não para nós mesmos, e sim para os outros (BAKTHIN, 1997).
No grupo, os outros se constituíram para nós como a um espelho sem superfície refletora. Em um espelho sem superfície refletora a luz sofre refração, e a imagem produzida pode ser vista por dentro do espelho. Por dentro do espelho, o professor viu, por exemplo, sua indiferença pelo aluno e todo um cenário por detrás, que antes não percebeu. Essa nova imagem o constrangeu a mudar sua prática.
A experiência vivenciada no grupo demonstrou o resultado de um trabalho de formação continuada que considera, em primeiro plano, a vida do professor. A ênfase na humanidade do professor favorece a mudança de sua própria prática, na qual o aluno não é mais considerado como um objeto, um número no diário, mas uma pessoa, com sonhos e angústias.
Essa experiência constituiu-se em referência para a reestruturação da dinâmica organizacional do trabalho de formação continuada realizado na escola, a partir de 2006.